Na noite de Natal, uma menina foi vítima de uma bala perdida
na cidade do Rio de Janeiro. Quando chegou ao hospital, o médico que deveria
estar de plantão, não estava presente. A garota esperou cerca de 8 horas para
ser atendida e operada, e alguns dias depois acabou perdendo a vida.
Este é o resumo de mais um episódio trágico que se repete
praticamente todos os dias em algum lugar do nosso extenso e desorganizado
país. Talvez tenha ganho mais dramaticidade e cobertura da mídia por se tratar
de um tragédia no dia de natal, onde uma
criancinha vai brincar com seu presente no meio da rua e acaba vítima de uma
bala perdida.
Culpados para o caso não faltaram. Hora eram os pais
descuidados, por deixar a menina sair na rua sozinha. Depois, a criminalidade
que alcança níveis alarmantes em todo território nacional. Talvez a própria
menina, por ter nascido num país onde reina a hipocrisia, a burocracia, e a
total desorganização do poder público. Entretanto, a vítima preferida dos
noticiários, sempre foi o médico plantonista. Poucos se importaram em saber as
reais razões para ele não estar presente naquele dia no hospital, nem as
condições de trabalho às quais ele, e todos os médicos da rede pública estão
sujeitos. A ordem geral era sabatinar o homem, e transforma-lo num homicida
doloso/hediondo.
Nesta semana, enfim, o médico resolveu esclarecer os motivos
de suas faltas, e qual deveria ser o procedimento do hospital para sanar o
problema. Novidades no depoimento, nenhuma. O médico alegou ser vítima da
burocracia que cerca o poder público, pois já estava tentando ser demitido
durante todo o mês de Dezembro. Reclamou ainda das condições de trabalho
inumanas às quais tinha que se submeter para realizar as operações. Disse ainda
que em caso de uma falta - a qual tinha sido previamente informada - quem
deveria substituí-lo era o chefe do plantão. Enfim.
Nenhuma dessas alegações trarão a vida da menina Adrielly de
volta. Mas talvez despertem a atenção das autoridades para o caos ao qual a
população é submetida.
Balas perdidas no RJ não são novidades. Atendimento precário
nos hospitais muito menos. Entretanto, vidas precisam ser perdidas para que os
verdadeiros responsáveis façam o serviço para os quais foram contratados - ou
eleitos. Medidas emergenciais devem ser tomadas e por algum tempo a situação talvez se torne menos caótica. Mas logo a população vai esquecer ou concentrar
suas atenções em outras coisas (vem ai o BBB), e as tragédias voltarão a
acontecer. E a população novamente vai se revoltar, depois vai esquecer.... e de novo...
e de novo... e de novo...