quarta-feira, 26 de junho de 2019

Quando os terraplanistas salvaram o governo Bolsonaro.




Você já ouvir falar em terraplanistas? Se você acompanha a política brasileira, provavelmente conheceu um pouco deles nas últimas semanas através do professor Olavo de Carvalho, até então reconhecido como “guru” do Presidente Bolsonaro e, segundo a mídia, grande influenciador do governo. Mas afinal, por que Olavo começou a falar com e até defender os terraplanistas? Seria o atestado final de que ele é realmente apenas um velho caduco, como dizem os opositores? Não! Essa história tem muito mais de sagacidade do que de loucura. Mas primeiro, precisamos olhar o contexto dos acontecimentos.
Olavo de Carvalho foi o grande responsável pela eleição do presidente Bolsonaro. Além de ser um grande influenciador de milhares de estudantes, que o acompanham através do curso online, e por consequência, disseminam o pensamento Olavista aos quatro cantos. Carvalho também é reconhecido como o precursor do que se chama de Nova Direita, além de ter feito campanha aberta em prol de Bolsonaro durante as eleições. O presidente também é um leitor do filósofo, e inclusive colocou um de seus livros sobre a bancada no primeiro discurso após eleito. Esses ingredientes chamaram a atenção da mídia para o Filósofo, que até então não tinha grande destaque nos noticiários ou capas de revista.
Iniciado o Governo Bolsonaro, logo começaram a pipocar as polêmicas. O presidente fez algo inédito no país, que é tentar cumprir as promessas de campanha, e começou a trabalhar forte, muitas vezes na base de decretos. Isso elevou os ânimos, que ainda foram aguçados pelas fortes palavras dos representantes do governo. O Presidente nunca foi de economizar nas palavras, mas agora tinha ministros, filhos e vice, todos falando pelos cotovelos. Ainda assim, quem mais chamava a atenção era Olavo, que se posicionava sobre diversas questões, dava palpites, broncas, e parecia ter grande influencia nas decisões do Presidente. Entretanto, isso não estava dando certo. Era muita polêmica e pouco foco nos projetos e na articulação política. Tudo estava ruindo.
Foi nesse cenário que Olavo de Carvalho deu um ultimato: disse claramente que havia desistido da política brasileira e não falaria mais sobre o assunto. Isso aconteceu pouco tempo após o professor se encontrar pessoalmente com o Presidente nos EUA. Curiosamente, as grandes polêmicas no governo pararam de aparecer. Parece que todos fizeram um pacto de para falar menos e trabalhar mais. Entretanto, Olavo conhece bem como funciona o comportamento humano, e sabia que os opositores precisariam de algo para atirar pedras, e a mídia precisaria notícia, de sangue.
Olavo, então, fez algo realmente genial. Logo que se retirou do debate político, começou a falar sobre Terra Plana e a dialogar com terraplanistas. Essa jogada chamou toda a atenção para o filósofo e aliviou as tenções no governo, que pode continuar o trabalho nas reformas pretendidas, e as coisas começaram a fluir. O filósofo sabe que as massas não estão interessadas em discutir ideias, e sim as pessoas, e se posicionar como terraplanista era tudo o que os adversários precisavam para destruir de vez sua reputação. O mais curioso de tudo, é que Olavo JAMAIS defendeu que a Terra é plana ou que não é. Ele apenas deu atenção a esse assunto e se colocou à disposição de ouvir os argumentos dos terraplanistas, dizendo no máximo, que alguns experimentos faziam sentido, mas que não eram suficientes para provar nada. Olavo apenas respeitou a opinião do próximo, sem julgar antecipadamente, como é de praxe da natureza social. Olavo sabia que seria julgado, condenado e crucificado como mais um louco que acredita que a Terra é Plana. Pode-se dizer que Olavo se fez de “boi de piranha”, atraindo toda a atenção e deixando o governo trabalhar. Parabéns pela coragem, Olavo!

terça-feira, 11 de junho de 2019

Limpando o esgoto



Certa vez assisti um documentário sobre o trabalho de manutenção dos esgotos na cidade de São Paulo. É muito complicado “limpar” um esgoto. A equipe tinha que trabalhar durante a madrugada e tinha poucas horas pra fazer o trabalho. Era sofrido e bem pesado mesmo. Entravam dentro das tubulações e faziam a manutenção e troca de algumas peças. O cheiro devia ser horrível, e no final, todos saíam de lá impregnados de merda até o pescoço. Isso me deixou uma mensagem: pra limpar algo extremamente sujo, você vai acabar se sujando também.
A política brasileira é um grande esgoto entupido. A operação Lava Jato vêm, há tempos, tentando fazer uma limpeza geral. Mas nessa semana sofreu um grande baque! Parece que os responsáveis pela operação tiveram que se sujar um pouco. Aparentemente trocaram mensagens que não podiam ser trocadas e combinaram coisas que não podiam ser combinadas. Talvez seja o suficiente para acabar com operação, e por em xeque todos os processos em tramitação e os já julgados. A tal reputação ilibada, parece não pertencer mais aos promotores e juízes de Curitiba.
É romântico acreditar que é possível vencer os corruptos brasileiros jogando dentro das regras, mas é preciso dizer: isso é impraticável! São esses políticos que criam essas regras, e claro, artistas do crime que são, não deixariam de criar as brechas necessárias para sempre se safarem e garantir a manutenção dos seus grupos no poder. É claro e cristalino o funcionamento promíscuo das leis brasileiras e é utópico crer que é possível condenar um grande cacique político seguindo essas mesmas leias à risca.
Ainda me surpreende a eficácia da operação Lava Jato, que conseguiu elaborar processos perfeitos, que foram destrinchados pelos advogados mais caros que o dinheiro pode comprar, e ainda assim sobreviveram. Vale lembrar que qualquer falha processual, qualquer deslize, pode anular tudo! Mas até essa semana isso não aconteceu. Não sobraram pontas soltas. Acontece que, aparentemente, também é ilegal a troca de mensagens particulares entre juízes e promotores para garantir essa perfeição processual, e isso se tornou um grande crime nessa semana.
Agora, veremos como o “brasileiro médio” (como os brasileiros que se acham superiores gostam de chamar o povão) vai interpretar essa situação. O brasileiro trabalhador, que não suporta nenhum deslize de caráter ou desvio de conduta, deverá julgar o quão criminosos são os responsáveis pela operação Lava Jato. Só espero que se atentem ao fato, de que é impossível limpar um esgoto sem sujar as mãos.