segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Porque o Brasil “dançou”.

 



Chegamos ao fim de mais uma Copa do Mundo e, mais uma vez, “dançamos”, entre aspas e literalmente. Ficamos pelo caminho e ainda tivemos que assistir nosso maior rival chegar à glória máxima do futebol. Ao menos tivemos, junto com o resto do mundo, o prazer de ver o grande jogador dessa geração conquistar a sua tão sonhada e merecida Copa: Lionel Messi.

Confesso que eu tinha convicção que a nossa seleção estaria disputando a final ontem. Para provar e firmar a minha certeza, cheguei até a fazer duas apostas com amigos. Resultado: estou devendo um fardo de Heineken e um churrasco. Mas não pensem que sou um mero apostador. Acompanhei toda a evolução do nosso time, liderado pelo multicampeão Tite e por um Neymar em um eterno processo de amadurecimento. Acontece que o time tinha mais. Era equilibrado, veloz, tático, e batizado no fogo com uma grande derrota, exatamente para a Argentina em pleno Maracanã. Era o momento ideal para chegar maduro na Copa e brigar pelo título. O problema é que nenhuma seleção chega pronta para a Copa. O campeão é formado durante a competição. Por isso a Copa é maravilhosa. O time precisa encontrar a união e evolução necessárias durante os 30 dias do torneio, e quem está melhor na reta final leva. Talvez a única exceção que eu tenha visto seja a Alemanha de 2014, que sobrou do início ao fim. As demais sempre são moldadas durante. O Brasil pecou nesse ponto. Não teve maturidade para se encontrar e não teve liderança para fechar o grupo em prol do objetivo. Sobraram dancinhas e faltou foco e comprometimento.

A Argentina e a França seguiram o caminho da Glória e ambas seriam campeãs justas. Para o bem do futebol foi a Argentina, com um Messi carregando a seleção nas costas, assim como fez o grande ídolo do país, Maradona, em 1986. Talvez as únicas duas copas onde um jogador foi, sozinho, tão decisivo na competição. Messi, campeão de tudo na sua brilhante carreira, agora sim, tem seu merecido lugar no panteão dos grandes jogadores da história. Poucos brilharam tanto e durante tanto tempo. Poucos conquistaram tantos títulos, e poucos foram tão importantes. Pelé, Ronaldo, Zidane, Romário, Garrincha, Maradona, e, agora, Lionel Messi. As discussões sobre os maiores são intermináveis, mas é indiscutível que o brilho do atual campeão foi o mais longevo de todos. Parabéns, pequeno gigante.


sábado, 10 de dezembro de 2022

PROCURA-SE: LÍDERES

 


PROCURA-SE: LIDERES

Porra! Como é doloroso perder. Há derrotas mais dolorosas e menos dolorosas, mas sempre são difíceis. A de ontem, foi tão traumática como a de 2018 frente à Bélgica e diferente do 7x1. O que as separa, nessa análise, é o rendimento do time. Jogamos bem mais uma vez, paramos no goleiro, e vimos tudo desandar em uma jogada de desatenção.  Mas por que nossa seleção não consegue vencer a Copa do Mundo? Não nos falta material humano e foram oito anos de planejamento. O time brasileiro tinha, de longe, o elenco mais dinâmico e com qualidades individuais da Copa, e sucumbimos para um time sem tantos talentos, mas com uma equipe mais coesa e com um líder. Talvez aqui esteja o grande problema dessa geração: a falta de liderança.

Liderar não é um processo objetivo, onde se escolhe o líder pelos números e desempenho. A liderança é produto de ações subjetivas e da presença de valores no líder. Normalmente é um processo natural aonde o sujeito vai sendo direcionado ao posto, mesmo contra sua vontade ou ambição. Ele simplesmente se vê liderando, pois sua base de valores faz com que os demais o enxerguem como líder, fazendo com que o sigam e confiem. Nossa seleção não tem ninguém assim. Até mesmo o técnico Tite decepcionou o Brasil e sua equipe abandonando todos em campo, sozinhos, após a derrota. Logo o Adenor, onde eu sempre enxerguei um grande exemplo de líder, mas que também deixou se levar pela arrogância ou foi derrotado pelos holofotes das estrelas. Ademais, era necessário um líder em campo.

Se formos relembrar nossos últimos dois títulos mundiais, veremos que tínhamos verdadeiros líderes no elenco. Em 94 o Dunga conseguiu controlar uma das pessoas mais incontroláveis da história do Futebol, que era o Romário. O baixinho era terrível e não aceitava ordens de ninguém. O capitão do time conseguiu domar o artilheiro e fomos campeões. Em 2002 o Brasil não era nem de perto favorito. Hoje, as pessoas olham o elenco e acham que o título era óbvio, mas aquela seleção era tão incontrolável pelo perfil “maluco” dos atletas que chegou a ser negada por alguns técnicos. A exemplo, o Ronaldinho Gaúcho era notícia nos jornais por driblar a segurança de hotéis para que mulheres entrassem no seu quarto na calada da noite. Somente Felipão aceitou o desafio e literalmente isolou os jogadores como prisioneiros na concentração para que mantivessem o foco, e no elenco tínhamos homens de respeito como Cafu e Dida, que lideraram. Um mais ativamente e o outro mais em silêncio, apenas como exemplo. Campeões mais uma vez. Depois disso, nunca mais!

O Brasil perdeu a noção de liderança no futebol e no país como um todo. As pessoas simplesmente deixaram de colocar os valores como referência e passaram a dar prioridade para outros tipos de coisas, além do fato de que essa geração odeia compromissos, odeia honrar com a palavra e odeia o peso da responsabilidade. Isso não cria líderes, e sem líderes somos como ovelhas esperando os lobos chegarem. E eles sempre chegam!