terça-feira, 8 de março de 2022

Nunca foi tão fácil escolher

 


A eleição desse ano tinha tudo para ser a mais imprevisível e disputada das últimas décadas. O cenário político brasileiro está extremamente polarizado, mas com seus dois principais candidatos com altos níveis de rejeição. Bolsonaro carrega consigo os estigmas de suas falas grossas e atrapalhadas e um governo com três anos de pandemia que não permitiu tocar os projetos de reforma como ele queria. Lula, bem, sobre esse nem é preciso dizer muito. É O LULA. Esse cenário trouxe a possibilidade de diversos novos nomes surgirem para se colocar como uma terceira opção, ou terceira via. E o brasileiro não pode reclamar de falta de variedade. São grandes nomes (ou eram) que tinham pouca rejeição e muito terreno a ganhar, mas em apenas dois meses de 2022 foi tudo por água abaixo:

Moro: Esse com certeza era o principal nome. O ex-juiz era, há poucos anos, um grande herói nacional. Capitaneou a operação Lava Jato, a maior até então na luta contra a corrupção e colocou diversos corruptos atrás das grades. Tem um passado ilibado e grande moral para enfrentar os adversários, quase todos com alguma rusga grave no passado, na seara da ética e bons valores. Mas Moro cometeu absolutamente todos os erros possíveis e fez muitas escolhas erradas. O principal deles, talvez, tenha sido sair do governo, onde foi ministro da justiça, fazendo acusações graves, mas sem apresentar provas. Quando o vídeo da tal reunião entre ministros saiu, Moro perdeu muito da sua credibilidade com o eleitorado da situação. E piorou: Moro se vestiu num personagem com posicionamentos neutros para tentar agradar a todos. Ao mesmo tempo em que batia no governo, batia na oposição e quando era questionado em temas polêmicos como desarmamento, aborto ou liberação das drogas, insistia em ficar em cima do muro. Nos seus discursos ele tinha apenas frases vazias sobre grandes problemas, dizendo que iria resolver tudo, mas sem nunca indicar por qual caminho seguiria, e apenas prometia “colocar no projeto”. Bem, talvez nem tenhamos tempo de ver tal projeto, pois Moro também se aliou ao grupo mais contraditório e instável do país, o MBL. E para jogar as últimas pás de terra sobre as chances dele, os “jovens” da sigla trataram de fazer uma auto-sabotagem inacreditável nas últimas semanas, passando por discursos que vão desde a apologia ao nazismo, ao machismo, e ao turismo sexual. Foi uma bomba atrás da outra, bem no momento em que Moro se colocou ao lado dos “meninos”. Para dar fim, o marqueteiro de Moro parece mais ser um agende duplo infiltrado do que um profissional de marketing, pois nada faz pela carreira do ex-juiz. Ou tudo que faz, parece ser ruim. Um misto de amadorismo com falta de tato político. Não vai ser dessa vez! Seria melhor vê-lo disputando uma vaga ao senado nesse pleito para que possa continuar seu desenvolvimento político.

Dória: Eis aqui um caso curioso. João Dória, apesar dos seus posicionamentos polêmicos durante a pandemia onde optou por quebrar a indústria e o comercio de São Paulo sendo rigoroso ao extremo com as medidas de contenção da Covid 19, não vem fazendo um governo terrível. Dória se destacou ao tomar para si os louros da produção de vacinas pelo Butantan e tem ao seu lado o estado de maior PIB do país. Mas Dória é um robô. Ele parece falso até para dar bom dia. Tudo que ele faz parece ser minuciosamente planejado e calculado. Cada sorriso, cada palavra, cada terno que usa. Por algum motivo a população brasileira se convenceu a não acreditar em pessoas artificiais assim. O povo gosta de sinceridade e prefere ouvir uma bobagem honesta a uma frase sábia pensada e calculada previamente. E claro, Dória traiu o governo ao se tornar oposição logo após se aproveitar do efeito Bolsonaro das eleições de 2018. E essa escolha tem se mostrado fatal para quem vai por esse caminho.

Ciro Gomes: Ele não tem nada de novo. Já participou dos governos Lula como ministro, já foi governador do seu estado e já disputou diversas eleições para presidente. É muito conhecido do eleitorado. E por incrível que pareça é, novamente, quem deve se colocar como terceira opção e deverá ficar em terceiro lugar no pleito. Ciro tem vantagem por sem um “macaco velho”, como se diz popularmente. Ele tem as palavras doces de acordo com a situação e o público, mas não soa falso como o Dória. Sabe se colocar e, não posso negar, tem muito conhecimento sobre diversos temas importantes como direito e economia. Mas é o Ciro, né? É adepto à escola de economia Keynesiana, onde defende uma participação cada vez maior do Estado na vida da população, em oposto ao Ministro Guedes, que defende menos estado e mais liberdade. Não é preciso pensar muito para concluir que, após os abusos da pandemia, o brasileiro não quer de maneira alguma mais Estado para ditar os rumos da sua vida. E claro, sempre que vamos chegando perto do pleito, o Ciro esquece de tomar seu Rivotril e acaba mostrando sua verdadeira face: um centralizador com anseios de ditador que quer liderar um estado com cada vez mais poder sobre a população e, se possível, sem oposição. Se temos medo de ditaduras, o candidato que mais tem chances de se tornar um ditador caso eleito Presidente, é o Ciro Gomes.

Esse é o cenário que se apresenta nesse momento. Ainda temos outros nomes, como Eduardo Leite – que foi preterido nas prévias do PSDB, um erro, pois tem uma rejeição muito menor que a de João Dória e um perfil que pode render muito crescimento junto ao eleitorado – e claro, os partidos nanicos de sempre como PSOL, e a Marina Silva, que deve estar em processo de descongelamento nesse exato momento. Mas a grande escolha deve ser entre Jair Messias Bolsonaro e Lula. Para ambos os eleitorados, nunca foi tão fácil escolher. Resta saber qual dos dois vai conquistar os votos do restante decisivo da população. Por hora, acho que teremos mais quatro anos de Bolsonaro para irritar alguns e encantar outros.