A eleição desse ano tinha
tudo para ser a mais imprevisível e disputada das últimas décadas. O cenário
político brasileiro está extremamente polarizado, mas com seus dois principais
candidatos com altos níveis de rejeição. Bolsonaro carrega consigo os estigmas
de suas falas grossas e atrapalhadas e um governo com três anos de pandemia que
não permitiu tocar os projetos de reforma como ele queria. Lula, bem, sobre
esse nem é preciso dizer muito. É O LULA. Esse cenário trouxe a possibilidade
de diversos novos nomes surgirem para se colocar como uma terceira opção, ou
terceira via. E o brasileiro não pode reclamar de falta de variedade. São
grandes nomes (ou eram) que tinham pouca rejeição e muito terreno a ganhar, mas
em apenas dois meses de 2022 foi tudo por água abaixo:
Moro: Esse com certeza era o
principal nome. O ex-juiz era, há poucos anos, um grande herói nacional.
Capitaneou a operação Lava Jato, a maior até então na luta contra a corrupção e
colocou diversos corruptos atrás das grades. Tem um passado ilibado e grande
moral para enfrentar os adversários, quase todos com alguma rusga grave no
passado, na seara da ética e bons valores. Mas Moro cometeu absolutamente todos
os erros possíveis e fez muitas escolhas erradas. O principal deles, talvez, tenha
sido sair do governo, onde foi ministro da justiça, fazendo acusações graves,
mas sem apresentar provas. Quando o vídeo da tal reunião entre ministros saiu,
Moro perdeu muito da sua credibilidade com o eleitorado da situação. E piorou:
Moro se vestiu num personagem com posicionamentos neutros para tentar agradar a
todos. Ao mesmo tempo em que batia no governo, batia na oposição e quando era
questionado em temas polêmicos como desarmamento, aborto ou liberação das
drogas, insistia em ficar em cima do muro. Nos seus discursos ele tinha apenas
frases vazias sobre grandes problemas, dizendo que iria resolver tudo, mas sem
nunca indicar por qual caminho seguiria, e apenas prometia “colocar no projeto”.
Bem, talvez nem tenhamos tempo de ver tal projeto, pois Moro também se aliou ao
grupo mais contraditório e instável do país, o MBL. E para jogar as últimas
pás de terra sobre as chances dele, os “jovens” da sigla trataram de fazer uma
auto-sabotagem inacreditável nas últimas semanas, passando por discursos que vão
desde a apologia ao nazismo, ao machismo, e ao turismo sexual. Foi uma bomba
atrás da outra, bem no momento em que Moro se colocou ao lado dos “meninos”.
Para dar fim, o marqueteiro de Moro parece mais ser um agende duplo infiltrado
do que um profissional de marketing, pois nada faz pela carreira do ex-juiz. Ou
tudo que faz, parece ser ruim. Um misto de amadorismo com falta de tato político.
Não vai ser dessa vez! Seria melhor vê-lo disputando uma vaga ao senado nesse
pleito para que possa continuar seu desenvolvimento político.
Dória: Eis aqui um caso
curioso. João Dória, apesar dos seus posicionamentos polêmicos durante a pandemia
onde optou por quebrar a indústria e o comercio de São Paulo sendo rigoroso ao
extremo com as medidas de contenção da Covid 19, não vem fazendo um governo
terrível. Dória se destacou ao tomar para si os louros da produção de vacinas
pelo Butantan e tem ao seu lado o estado de maior PIB do país. Mas Dória é um
robô. Ele parece falso até para dar bom dia. Tudo que ele faz parece ser
minuciosamente planejado e calculado. Cada sorriso, cada palavra, cada terno
que usa. Por algum motivo a população brasileira se convenceu a não acreditar
em pessoas artificiais assim. O povo gosta de sinceridade e prefere ouvir uma
bobagem honesta a uma frase sábia pensada e calculada previamente. E claro,
Dória traiu o governo ao se tornar oposição logo após se aproveitar do efeito
Bolsonaro das eleições de 2018. E essa escolha tem se mostrado fatal para quem
vai por esse caminho.
Ciro Gomes: Ele não tem nada
de novo. Já participou dos governos Lula como ministro, já foi governador do
seu estado e já disputou diversas eleições para presidente. É muito conhecido
do eleitorado. E por incrível que pareça é, novamente, quem deve se colocar
como terceira opção e deverá ficar em terceiro lugar no pleito. Ciro tem
vantagem por sem um “macaco velho”, como se diz popularmente. Ele tem as
palavras doces de acordo com a situação e o público, mas não soa falso como o Dória.
Sabe se colocar e, não posso negar, tem muito conhecimento sobre diversos temas
importantes como direito e economia. Mas é o Ciro, né? É adepto à escola de
economia Keynesiana, onde defende uma participação cada vez maior do Estado na
vida da população, em oposto ao Ministro Guedes, que defende menos estado e
mais liberdade. Não é preciso pensar muito para concluir que, após os abusos da
pandemia, o brasileiro não quer de maneira alguma mais Estado para ditar os
rumos da sua vida. E claro, sempre que vamos chegando perto do pleito, o Ciro
esquece de tomar seu Rivotril e acaba mostrando sua verdadeira face: um
centralizador com anseios de ditador que quer liderar um estado com cada vez mais
poder sobre a população e, se possível, sem oposição. Se temos medo de
ditaduras, o candidato que mais tem chances de se tornar um ditador caso eleito
Presidente, é o Ciro Gomes.
Esse é o cenário que se
apresenta nesse momento. Ainda temos outros nomes, como Eduardo Leite – que foi
preterido nas prévias do PSDB, um erro, pois tem uma rejeição muito menor que a
de João Dória e um perfil que pode render muito crescimento junto ao eleitorado
– e claro, os partidos nanicos de sempre como PSOL, e a Marina Silva, que deve
estar em processo de descongelamento nesse exato momento. Mas a grande escolha
deve ser entre Jair Messias Bolsonaro e Lula. Para ambos os eleitorados, nunca
foi tão fácil escolher. Resta saber qual dos dois vai conquistar os votos do
restante decisivo da população. Por hora, acho que teremos mais quatro anos de
Bolsonaro para irritar alguns e encantar outros.