O Corinthians se encontra em uma das piores fases da sua história. Um clube gigante, campeão de tudo, dono de uma das maiores e mais apaixonadas torcidas do país, que já lotou estádios adversários no Brasil e no Japão. Um time historicamente conhecido como sofredor, por superar dificuldades insuperáveis, cenários improváveis, adversários imbatíveis e por causa das suas origens: fundado por um grupo de operários que queriam se ver representados no futebol, àquela época dominado pelas elites, e que prometia ser “um time do povo, que seria feito pelo povo”. Mas tudo isso ficou na história. Hoje, o Corinthians é um clube sem personalidade, que deixou-se dominar por uma elite corrupta e que viu sua torcida perder-se em narrativas políticas, brigas partidárias e foi dominada por criminosos, que preferem dar um tapa em um adversário do que ver seu time jogar. O clube tem uma dívida impagável, que supera os 3 bilhões de reais, originada por desmandos de uma sequência de diretores incompetentes, mas também pela construção de uma arena luxuosa, vestida em mármore branco e preto, muito distante daquilo que aquele grupo de operários imaginou em 1910.
Mas um legado construído com tanta
luta e superação não poderia ser destruído sem um esforço gigantesco por parte
dos seus representantes. A crise em si não é novidade. O Corinthians já caiu
para a série B em 2007, depois que o clube foi usado e abandonado com dívidas
milionárias pela empresa MSI, liderado pelo empresário Kia Joorabchian, até
então desconhecido no Brasil. O time caiu de divisão e se reergueu, conquistando
grandes títulos nos anos seguintes. Mas o buraco que o time se encontra hoje,
tanto financeiramente, quanto de identidade, é muito maior. A dívida bilionária
segue crescendo a passos largos e sem um plano de gestão. Os salários estão
sendo pagos com atrasos e o clube se vê em meio a um escândalo de desvios de
verbas de patrocínio, que levou ao rompimento do contrato com o patrocinador
Master de 2024. Esse não é um cenário inédito no Brasil, e todos os times que
passaram por situações similares – de escândalos, processos judiciais e dívidas
– se viram perto da falência, e caíram de divisão, como o Cruzeiro, Atlético
Mineiro e Fluminense.
Mas o cenário piora: parte
importante da torcida corintiana optou por atuar ativamente no cenário político
altamente polarizado do país, participando de grandes manifestações contra o
governo Bolsonaro, e alguns torcedores célebres defenderam que o time tem uma posição
ideológica definida: de esquerda. Isso contribuiu para dividir também a
torcida, que por definição é um reflexo do país, e certamente possui muitos
conservadores que não gostaram de ver seu time do coração se expor e tomar
partido em uma discussão política. Também há rupturas internas no clube, e um
exemplo é o infeliz episódio com o técnico Cuca, que foi defendido por atletas do
time principal, e achincalhado pelas atletas do time feminino do clube, levando
a mais uma crise e a sua demissão.
Certamente não é só o
Corinthians e a sua torcida que perdem com essa crise sem precedentes. O
futebol brasileiro como um todo sofrerá um impacto considerável com a
decadência de um de seus gigantes. Provavelmente o time vai se reerguer, resta
saber quanto tempo isso vai demorar e quem vai liderar o processo de
reestruturação. Mas uma coisa é certa: há muito a ser feito e é uma triste ironia
o time do povo se encontrar em um cenário tão caótico originado por megalomanias
financeiras. Falando em ironia, nem tudo é ruim: O Corinthians é o atual
tetracampeão do campeonato brasileiro e atual campeão paulista, além de liderar
com grande folga o brasileirão deste ano. Tudo isso no futebol feminino.
Nenhum comentário:
Postar um comentário