Mais
de duzentas mil pessoas saíram às ruas no País todos para apoiar as
reivindicações da semana passada. Mais uma vez afirmo, tais reivindicações nada
tem a ver somente com o reajuste no passe de ônibus. Essa premissa foi somente
o estopim que faltava para incendiar a fúria de um povo que vem sendo humilhado
por seu governo há décadas. Ninguém mais suporta os escândalos políticos e a
recorrente impunidade. Mensaleiros, obras superfaturadas, desvios de dinheiro,
falta de escolas e hospitais, estradas sucateadas e pedagiadas. Apenas um
desses motivos bastaria para o povo ir às ruas em qualquer país desenvolvido,
mas os brasileiros, sempre com a realidade mascarada pela grande mídia,
resolveram esperar o acúmulo de motivos.
Grande
parte das passeatas se passou em tons de paz e harmonia. Entretanto, como não
poderia deixar de ser, em alguns momentos, principalmente nos grandes centros,
o controle escapou da mão dos organizadores. Uma parte ínfima, porém nunca
desconsiderável dos participantes, achou que deveria partir para o confronto
com os policiais que faziam o patrulhamento, o e caos se instaurou. Parte dessa
revolta foi motivada pelos próprios policiais, que na semana passada
responderam com violência aos protestos pacíficos, e tal truculência não foi
esquecida. Mas o grande culpado ainda é o governo e os políticos, que fizeram
um esforço dantesco para despertar a fúria de uma população que, camuflada na
sua inocência, só quer saber de paz e festa. Mas ele esquece que é exatamente
esse povo, que engole seco os absurdos enfrentados diariamente, mas quando
acordado, se torna o poder mais forte e por vezes impossível de se enfrentar.
Foi
o mais forte clamor popular desde os caras pintadas em 1992, que teve como
resultado o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Desta vez
o motivo da revolta popular ainda não está bem claro, e os reflexos talvez não
sejam visíveis num curto prazo. O conjunto de motivos é mais fácil de
compreender – descaso do governo, escândalos políticos e gastos com a Copa – e assim,
o povo decidiu que era hora de se manifestar. Resta agora esperar os próximos
dias para saber se novas manifestações vão ocorrer e se serão ainda maiores.
Mas algo importantíssimo já aconteceu. Pela primeira vez os eleitores mais jovens
tiveram o prazer de se sentir verdadeiros cidadãos, participando de uma luta
por aquilo que lhes é devido, seus direitos mais básicos e respeito por parte dos
governantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário